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Só o amor faz ser livre, porque ele quebra os
cativeiros que nos aprisionam. Ele tem o dom de devolver a liberdade, e por
isso não há experiência de amor fora da liberdade. Ninguém pode ser amado e ao
mesmo tempo ser mantido cruelmente na prisão. Não podemos acreditar no amor de
quem nos aprisiona e nos mantém em cativeiro.
O amor verdadeiro é o
amor que faz ser livre, que faz ir além, porque não ama para reter, mas para
promover. Amor e liberdade são duas vigas de sustentação para qualquer relação
que pretenda ser respeitosa.
Se Deus nos fez livres,
o amor de quem nos encontra pela vida não pode ser contraditório ao amor que
nos originou. O outro que acabou de chegar não tem direito de se tornar obstáculo
para “Aquele” que nos sustenta em nossa condição primeira.
Se quiser nos amar, se
quiser fazer parte de nossa vida, terá que ter diante dos olhos o que somos, o
que ainda podemos ser, e não o que ele gostaria que fôssemos. O amor só
acontece quando deixamos de imaginar. Só a realidade autentica o amor, demostra
sua verdade.
Estamos em processo de
feitura, e Deus nos devolve a nós mesmos o tempo todo. Ele nos devolve pelas
mãos históricas de quem nos encontra, de quem nos ama. É o amor humano de Deus,
manifestado em minha vida pela força de pessoas concretas, cheias de voz e de
gestos.
Essas são as pessoas
que nos ajudam a conquistar o que não sabíamos possuir. Elas nos mostram o avesso
de nossa realidade, porque o amor é uma espécie de lente que amplia nossa
autopercepção. O olhar de quem nos ama é um olhar que nos devolve, abre portas.
Por outro lado, se não
somos amados, corremos o risco de sermos roubados de nós. Corremos o risco de
nos tornar vítimas nas mãos dos outros e de sermos fechados nas estruturas
minúsculas de um cativeiro.
Se já afirmamos que,
pelas mãos humanas, Deus toca em nossa vida, amando-nos no amor humano que nos
promove, por outro lado, também podemos dizer que as estruturas diabólicas nos
alcançam cada vez que o amor doentio dos outros modifica nossas escolhas e
afeta nossa liberdade fundamental.
Uma coisa certa: quanto
maior é o bem que nos provocam, maior é o desejo que temos de ficar por perto.
O desejo sobrevive assim. O outro nos apresenta um jeito novo de interpretar o
que somos, e por essa nova visão nos apaixonamos. O que nos encanta no outro é
o que ele nos conseguiu fazer enxergar em nós mesmos. Egoísmos? Não. Apenas o primeiro
pilar do conceito de pessoa alcançando uma profundidade ainda maior dentro de
nós.
Padre
Fábio de Melo
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